A organização, a intervenção e a luta da juventude trabalhadora

Dinis Lourenço
Membro da InterJovem

Camaradas,

Em nome da Interjovem, saúdo o XIV congresso da CGTP-IN, momento alto da organização dos trabalhadores e da luta pelos seus direitos.

A luta nos últimos quatro anos teve a participação e acção dos jovens trabalhadores nas empresas, nos locais de trabalho e nas ruas. Apesar da reposição e conquista de direitos, a situação laboral dos trabalhadores mais jovens é marcada pela má qualidade do emprego, assente na política de precariedade e baixos salários que os sucessivos governos de PSD/CDS-PP e PS vêm impondo.

À Juventude são impostas cada vez mais dificuldades de acesso ao trabalho e aos direitos. Por força da proliferação dos vínculos precários, os jovens são cada vez mais afastados da contratação colectiva, levando a um empobrecimento e a uma perda efectiva de direitos. São cada vez mais os jovens trabalhadores que recebem o salário mínimo nacional, generalizando-se os casos de jovens que, por serem forçados a trabalhar em part time, levam para casa ainda menos que isso. Esta política de baixos salários não nos permite levar uma vida plenamente livre, independente e emancipada, e por isso os jovens tomam como sua a reivindicação de um aumento geral de salários de 90€ para todos os trabalhadores e a fixação do salário mínimo nacional nos 850€.

Impõem-nos também bancos de horas, horários excessivos e desregulados. A tecnologia e os níveis de produção actuais permitem reduzir a jornada de trabalho e os ritmos de trabalho e por isso os jovens também se batem pelas 35 horas para todos os trabalhadores, contra a desregulação dos horários de trabalho e pelo combate aos abusos no trabalho por turnos.

A precariedade continua a ser o grande flagelo da juventude. Cerca de 7 em cada 10 jovens trabalhadores não têm um vínculo efectivo e 55% dos postos de trabalho criados foram ocupados por trabalhadores com contratos não permanentes e a tempo parcial. A falta de estabilidade no trabalho traduz-se em falta de estabilidade na vida, promove os baixos salários e os horários desregulados. Seja através de contratos a prazo, falsos recibos verdes, subcontratação através de empresas de trabalho temporário e prestadoras de serviço ou de plataformas digitais, é com a precariedade que o patronato aprofunda a exploração, chantageia e tenta impedir a capacidade reivindicativa e de organização da juventude.

Estas foram as reivindicações que estiveram presentes nas manifestações nacionais da juventude trabalhadora que realizámos nos últimos anos, e que mobilizaram para as manifestações convergentes da CGTP-IN e para as manifestações do 1º de Maio onde a juventude sempre disse presente.

Mas não abdicámos de intervir em matérias importantes da juventude, como a luta pela paz, integrando o comité nacional preparatório do festival mundial da juventude e dos estudantes e a organização do acampamento pela paz integrando a plataforma pela paz e pelo desarmamento. Realizámos um importante encontro nacional de jovens trabalhadores em 2019, a reforçámos o trabalho em vários sindicatos, federações e regiões.

A Interjovem emana do trabalho nos sindicatos, uniões e federações, é esta a nossa raíz. É a partir dos sindicatos que se identificam os locais de trabalho prioritários de juventude e é o trabalho dos sindicatos junto desta camada que constitui a intervenção da Interjovem. É desta intervenção, do afirmar em cada sector as reivindicações dos jovens trabalhadores, em integrar nos cadernos reivindicativos, na discussão, no debate, na acção e na luta os mais jovens que leva a que tenhamos cada vez mais jovens no movimento sindical. Muito avançámos na sindicalização, quebrámos barreiras e bloqueios à sindicalização dos jovens trabalhadores, dos que não têm um vínculo estável de trabalho, dos que têm uma situação laboral mais fragilizada. Sindicalizámos mais de 16 mil jovens trabalhadores com menos de 30 anos. Este é o caminho essencial para o reforço e rejuvenescimento da nossa central, este é o passo essencial para que mais jovens integrem os nossos sindicatos, este é o facto que permite afirmar sem medo que a CGTP-IN está mais forte, mais jovem, mais interventiva e que apesar de cumprir 50 anos este ano é a central sindical da juventude, onde os jovens se reconhecem, integram, lutam e conquistam os seus direitos.

Mas um dos traços da juventude é a sua incrível capacidade de querer sempre mais e melhor, e como somos trabalhadores e nada temos a perder a não ser as nossas amarras trabalhamos sempre para conquistar o que muitos tentam colocar como impossível. Para isso temos de nos organizar mais e melhor, envolver mais os jovens trabalhadores, criar e dinamizar as comissões de jovens como espaços de discussão, planeamento e acção para a resolução dos problemas específicos da juventude. Estas comissões têm de estar integradas no trabalho geral de cada sindicato e federação, articulando as questões específicas da juventude com as mais gerais, segundo os princípios da unidade e solidariedade que orientam a nossa acção.

A cada sindicato, em cada união e federação, deve corresponder uma comissão de jovens. Trabalhemos para que cada Comissão de jovens tenha o seu próprio plano de trabalho integrado na acção geral do Movimento Sindical, com empresas prioritárias, e objectivos próprios de sindicalização e de desenvolvimento da luta. Em cada caderno reivindicativo devem constar as reivindicações específicas que mobilizem os jovens trabalhadores. Cada documento Sindical deve conter linhas de comunicação com os jovens trabalhadores. Em cada jovem sindicalizado devemos ver um potencial activista e um futuro representante dos trabalhadores.

Façamos da juventude trabalhadora a chama mais viva da acção do reforço do Movimento Sindical Unitário e do combate à exploração.

Este é também o caminho para construir uma grande manifestação de juventude trabalhadora no dia 26 de Março em Lisboa. Vamos exigir mais estabilidade e melhores salários, afirmar nas ruas as lutas que se desenvolvem nas empresas e nos locais de trabalho. A manifestação nacional de jovens trabalhadores é responsabilidade de todos nós, todos os que hoje estamos aqui, e todos os que diariamente nas empresas e locais de trabalho lutam para avançar, repor e conquistar direitos!

Façamos de todos os jovens que sindicalizamos nos últimos anos os mobilizadores para a manifestação. Vamos, e contamos com o empenho de todo o movimento sindical, para construir uma grande manifestação de jovens trabalhadores no próximo dia 26 de Março.

Viva a luta da juventude trabalhadora!

Viva a Interjovem

Viva a CGTP-IN

Seixal, 14 de Fevereiro de 2020

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